domingo, 17 de janeiro de 2016

Parto domiciliar é seguro: Fatos científicos a respeito

Muito médicos usam a desculpa de que o parto domiciliar não é seguro, que, caso hajam intercorrências e seja necessário um suporte maior não há tempo para chegar há um hospital, dentre outras, para desencorajar e criticar ferrenhamente os profissionais de enfermagem e médicos que acompanham partos domiciliares. Pois bem, como cientista, me apego a fatos científicos, então fui atrás de dados, artigos acadêmicos, que pudessem respaldar a segurança, ou não, do parto domiciliar. Eis o que encontrei:

Imagem: wikkipédia

Entre janeiro de 2000 e dezembro de 2004, no Canadá, Janssen e colaboradores realizaram um estudo comparando a segurança entre partos domiciliares planejados acompanhados por parteiras (midwifes) e partos hospitalares acompanhados por parteiras ou médicos. no total, foram 2889 partos domiciliares, 4752 partos com parteira no hospital e  5331 partos com médico no hospital (não venham me falar que a amostra do estudo é pequena então, por favor!).

Resultados deste estudo: A taxa de mortalidade perinatal por 1000 nascimentos foi de 0,35 (95% de intervalo de confiança) no grupo de partos domiciliares planejados; a taxa no grupo de partos hospitalares planejados era (IC 95% 0,00-1,43) 0,57 em mulheres atendidas por uma parteira e (IC 95% 0,00-1,56) 0,64 entre aqueles com a presença de um médico (ahhh, a taxa de mortalidade com médicos foi maior!!! Expliquem doutores sabe-tudo que criticam as parteiras!).

As mulheres do grupo de parto domiciliar planejado sofreram significativamente menos intervenções obstétricas do que as assistidas por parteiras em hospital, além de uma significativa redução nos resultados adversos maternos (por exemplo, laceração perineal de 3º ou 4º, no parto domiciliar a taxa de risco foi de 0,41; hemorragia pós-parto, taxa de risco 0,62. Os resultados foram semelhantes na comparação com partos hospitalares assistido por médico. Os recém-nascidos do grupo de parto domiciliar precisaram de menos reanimação ou terapia de oxigênio por mais de 24 horas do que que aqueles no grupo hospitalar com nascimentos assistidos por enfermeiras obstétricas. Os resultados foram semelhantes na comparação com os recém-nascidos nos partos hospitalares assistido por médico; Além disso, os recém-nascidos do grupo de parto domiciliar eram menos propensos a ter aspiração de mecônio (RR 0,45, 95% CI 0,21-0,93).

Interpretação dos autores: o parto domiciliar planejado, realizado com o acompanhamento de parteira registrada, implica em uma significativa redução na taxa de mortalidade materna e perinatal, além de redução nas taxas de intervenções obstétricas e resultados adversos, quando comparados com partos realizados em ambiente hospitalar.

Artigo original:  Outcomes of planned home birth with registered midwife versus planned hospital birth with midwife or physician, Janssen, P. et al, 2009, Publicado pole jornal da Associação Médica Canadense, CMAJ (acesse aqui o artigo original completo).

Em estudo anterior, Johnson e Daviss (2005) já haviam avaliado 5418 mulheres na América do Norte (98% EUA, 2% Canadá) que planejavam realizar parto domiciliar com a assistência de parteiras credenciadas. Destas, 665 tiveram que ser transferidas para o hospital durante o trabalho de parto. Das restantes, que pariram em casa, o que se observou foi que as taxas de intervenções como episiotomia, fórceps ou extração à vácuo, foram significativamente menores do que em mulheres que realizavam o parto no hospital. A taxa de mortalidade foi de 1,7 para cada 1000 nascimentos, semelhante à outros estudos de partos de baixo risco. Não houve morte materna. Como conclusão, mais uma vez os autores observaram que o parto domiciliar planejado reduz significativamente os riscos de intervenções desnecessárias, e a mortalidade neonatal intra parto foi semelhante ao observado nos partos hospitalares na América do Norte.

Artigo original: Outcomes of planned home births with certified professional midwives: large prospective study in North America, Johnson e Daviss, 2005. Publicado no Jornal Médico Britânico, BMJ, (acesse o artigo original aqui).

Existem mais estudos sobre o assunto, trouxe estes dois para dar um exemplo. Ambos mostram que o parto domiciliar planejado, assistido por parteira treinada (no Brasil, feitos pelas enfermeiras obstetras ou obstetrizes), é muito mais seguro para a mãe e o bebê, reduzindo o número de intervenções desnecessárias.

Ou seja, um parto domiciliar planejado, em uma gestante de risco normal, com uma equipe qualificada, é tão, ou até mais seguro, quanto um parto hospitalar. Alguns estudos relatam uma maior taxa de internação na UTI neonatal de bebês nascidos em parto domiciliar, mas isso não significa que eles nasçam em piores condições de saúde. Tal fato ocorre pela cultura que muitos médicos tem de, ao atenderem uma gestante e um bebê que tiveram um parto domiciliar, imediatamente encaminhar o bebê para a UTI neo, mesmo que não precisa!

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